terça-feira, novembro 08, 2005

Livros indispensáveis

(Photo by Eliane H. Cauduro)


Fabrício Carpinejar

É jornalista e poeta, autor de Como no céu/Livro de Visitas e As Solas do Sol (nova versão).
SÓ MULHERES!Homens não pagam ingresso antes da meia-noite

Toda lista costuma acenar para os clássicos e livros fundamentais e esquece de colocar os contemporâneos nacionais. As mulheres ainda aparecem em cotas, quando já são maioria no talento. Esta lista será diferente, formada de lançamentos, com as 10 autoras brasileiras que convidaria para uma festa em minha casa. Não é literatura feminina, é Literatura.

Duas Iguais (Record) - Cíntia Moscovich - Novela da autora gaúcha, que traduz a relação amorosa entre duas jovens. Homossexualidade trabalhada com sutileza, compreensão e sensualidade. Bom de se ler à meia luz.

Magnólia (Bertrand Brasil) – de Marcia Tiburi - Ela é conhecida como filósofa e apresentadora do Saia Justa (GNT). Mostra um outro lado mais intimista e feroz, a da ficcionista. Romance-rio, tensionado, de uma mulher que examina sua consciência, seus fantasmas e acerta as pendências familiares. Bom de se ler arrumando gavetas antigas.

Vida Sexual da Mulher Feia (Agir) - Cláudia Tajes - O livro está saindo do forno agora. Uma comédia dolorida sobre as desventuras amorosas de uma feia, com uma honestidade que elimina qualquer complacência e piedade. Bom de se ler na frente do espelho.

Ao homem que não me quis (Agir) - Ivana Arruda Leite - Quem espera uma prosa confessional vai se surpreender. Ivana tem um humor sensível e esperto. Explora a carência das mulheres para falar da incredulidade dos homens. Cenas fortes, psicológicas, emocionalmente inesquecíveis. Frases curtas, de um só gole: Tira essa faca do meu peito e enterra o pau. É muito mais confortável. Bom de se ler lavando e quebrando os pratos.

Fazer Silêncio (Iluminuras) - Mariana Ianelli - Poesia elegante, com inversões do cotidiano. Papo coração mais do que cabeça. Conselhos sábios de uma mulher que amou inclusive suas perdas. “Não há tempo que me fortaleça/ Sem antes ter me derrubado”. Bom de se ler cantando na janela.

Arremesso Livre (Relume Dumará) - Vera Americano - Versos carregados de observações incomuns. A autora escreve sussurrando aos ouvidos. “A crueldade tem os olhos muitos abertos”. Bom de se ler para morder os lábios.

Selma e Sinatra (Objetiva), de Martha Medeiros - Quem gostou do divã e o estilo “diálogo franco” vai curtir a nova novela de Martha. Algo como ninguém é normal e comum de perto. Jornalista vai escrever biografia pacata de mulher e se surpreende com revelações e seu envolvimento com cantor famoso. Bom de se ler fazendo karaokê.

A Palavra que Veio do Sul (Record) - Livia Garcia-Roza - Não conheço escritora que trabalhe melhor o mundo adolescente e jovem, aproveitando as contradições, expectativas e dilemas da formação, as brigas com os pais, o sofrimento precoce, as paixões de afogadilho. Bom de se ler na mesa de jantar.

Prece a Uma Aldeia Perdida (Record) - Ana Miranda- Uma feição pouco conhecida da romancista. Poesia pura de ninar, para desenhar nos cantos das páginas enquanto se sonha. Para matar a saudade da infância e de Cecília Meireles, das igrejas no topo dos morros e do interior de estado e do corpo. Simplicidade musical. Bom de se ler num domingo.

As Sombras da Vinha (Bertrand Brasil) - Maria Carpi - Se ela não fosse minha mãe, estaria aqui da mesma forma. É um conjunto denso, reflexivo e metafísico sobre o amor a partir da imagem do plantio das uvas e da colheita das videiras. Bom de se ler tomando vinho.