quarta-feira, novembro 30, 2005

Há pessoas... e há Pessoa. Ah, Pessoa...


Hoje, 70 anos da morte do poeta maior...
o que me fez descobrir que a alma existe é pra arder,
o que me ensinou a sentir com mais profundidade do que eu imaginava capaz.
O que me levou a Portugal só pra estar mais perto, andar nas mesmas ruas, estar nos mesmos lugares e, dessa forma, ludibriar o tempo e confirmar que não apenas as cartas de amor são ridículas... eu também sou (e com que alegria assumo isso)!
Ridiculamente feliz por viver num mundo por onde andou Pessoa.
Eterno porto e referência.
"Meu ser elástico, mola, agulha, trepidação"...
Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...
Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.
Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre --
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.
(Alberto Caeiro)

Ah seja como for, seja por onde for, partir!
Largar por aí fora, pelas ondas, pelo perigo, pelo mar.
Ir para Longe, ir para Fora, para a Distância Abstrata,
Indefinidamente, pelas noites misteriosas e fundas,
Levado, como a poeira, plos ventos, plos vendavais!
Ir, ir, ir, ir de vez!
Todo o meu sangue raiva por asas!
Todo o meu corpo atira-se pra frente!
Galgo pla minha imaginação fora em torrentes!
Atropelo-me, rujo, precipito-me
Estoiram em espuma as minhas ânsias
E a minha carne é uma onda dando de encontro a rochedos!
(Álvaro de Campos - Ode marítima)