domingo, abril 29, 2007

Meditação


O sentido da meditação


Inspirar o incenso, observar pétala por pétala da flor , embalar-se em sons. Atividades singelas são exercícios de meditação – mantêm o coração e a mente serenos. A prática requer alguns minutos por dia de atenção às sensações.

TEXTO: CRISTIANA FELIPE


- O CHEIRO -
Do que você precisa: um incenso Acenda um aroma suave. Sente-se confortavelmente e deixe que o odor se espalhe. Aprecie o perfume. Perceba como o cheiro sutilmente traz lembranças, mexe com suas emoções. “Poderão surgir imagens e pensamentos, mas deixe-os passar. Não desfoque a atenção”, diz Maria José Rocha Correia, professora de práticas meditativas da Associação Palas Athena, de São Paulo. Sinta o essencial entrando pelo nariz e imagine o caminho que faz até chegar aos pulmões. Inspire profundamente e depois expire, percebendo a diferença de temperatura do ar que entra e sai pelas narinas.

- O OLHAR -
Do que você precisa: uma flor Escolha uma bem bonita. Coloque-a a 1m de distância e sem piscar observe-a durante 30 segundos. Se for uma margarida, procure fixar a visão no miolo. Não movimente o olhar para não perder a concentração. Repare na forma e na cor. Depois feche os olhos e veja a imagem que aparece. “Se sua mente estiver serena, a imagem da flor permanecerá nítida por mais tempo”, diz Maria José. Repita o exercício e, na terceira vez, fixe o olhar por 60 segundos e permaneça de olhos fechados durante um minuto para reconstituir a imagem. Às vezes, com tantos estímulos visuais, não enxergamos o mais importante. Esse exercício depura a visão.

- O GOSTO -
Do que você precisa: um bombom Para ter resultado, é preciso degustar o chocolate de um jeito especial. O poeta e mestre zen Thich Nhat Hanh diz que é possível praticar meditação em qualquer tarefa cotidiana, como comer uma tangerina. Basta estar atento à forma do gomo, ao tamanho e ao sabor. O mesmo pode ser feito com um bombom. Sinta o aroma do chocolate antes de colocálo lentamente na boca, sem morder. Em seguida, perceba a textura (se é liso ou tem alguma noz ao redor) e o sabor. Preste atenção se sua salivação aumenta e também no barulhinho gostoso que ele faz ao ser rolado de um lado a outro da boca.

- O SOM -
Do que você precisa: música Escolha um CD de música erudita. Sentada, confortavelmente de olhos fechados, ouça uma vez a música inteira, prestando atenção na melodia e no prazer que ela traz. Sintonize o instrumento que mais lhe agrada (flauta, piano, violino ou outro do conjunto). Ouça a música pela segunda vez, mas agora apenas seguindo esse instrumento. Quando ele não aparece, fique apenas em estado de alerta, esperando que volte, mas não disperse o pensamento. Esse exercício pode ser feito com um gongo ou um sino, cujas batidas você acompanha centrando toda a atenção no som. A contagem faz com que você se mantenha concentrada.

- O TOQUE -
Do que você precisa: uma bolha de sabão No dia-a-dia, o tato entra na vida quase sempre de um jeito automático. Perdemos a noção de textura, temperatura e forma das coisas. Por isso, é um bom sentido a ser desenvolvido na meditação. Explore, por exemplo, a consistência de uma bolha de sabão, brinque com ela, passe-a de uma mão a outra, note a umidade. O mesmo pode ser feito com um seixo rolado. De olhos fechados, quando tocá-lo, faça-o dançar na palma da mão. Perceba seu peso e sua textura. Se é lisa ou áspera, quais são as aderências. Crie familiaridade com o objeto que está manipulando. Esse exercício minimiza a agitação e a dispersão.

- O SEU PRÓPRIO CORPO -
Do que você precisa: ficar presente O neurologista inglês Oliver Sacks, um pesquisador dos admiráveis poderes da mente, fala de um sexto sentido: a propriocepção – a consciência de cada parte do corpo. A professora de ioga Clarice Knapp, de São Paulo, sugere uma maneira de acessálo. Deitada, respire profundamente. Sinta o peso de seus pés, percorra mentalmente as pernas. Observe o peso da bacia. O abdômen está relaxado, irradiando calor. O tórax se expande como a copa de uma árvore florida e relaxa ao redor do coração. Sinta a garganta abrir, solte nuca, boca e dentes. Os ombros parecem mais largos no chão e o repouso desce pelos braços até os dedos. A cabeça está leve. Os lábios se tocam e testa, pálpebras e sobrancelhas estão sem tensão. Você está inteira.

http://bonsfluidos.abril.com.br/edicoes/0094/06/06.shtml